JOÃO XAVIER DE MATOS
Este poeta, contemporâneo de Filinto Elísio, nasceu numa aldeia da Ribeira-Tejo, cerca de 1735, e faleceu no ano de 1789. Diz o professor Jacinto do Prado Coelho que Xavier de Matos «compôs alguns dos mais belos sonetos do Neoclassicismo». O que o leitor pode ler a seguir, é « uma verdadeira peça de antologia », no sabor selecto do sábio professor Rodrigues Lapa. Faz parte do tomo I das Rimas (1770) que o poeta, não por acaso, quis “Dedicadas à Memória do Grande Luiz de Camões”. É de facto uma maravilha de musicalidade e naturalidade, bem digna do “Príncipe dos Poetas”. Pena, que pena, aquele “tá-só-lá”, no 3º verso da 2ª quadra, que a pausa não atenua! Mas, “não há bela sem senão”…
Pôs-se o sol… Como já na sombra feia
Do dia pouco a pouco a luz desmaia,
E a parda mão da noite, antes que caia,
De grossas nuvens todo o ar semeia!
Apenas já diviso a minha aldeia;
Já do cipreste não distingo a faia.
Tudo em silêncio está; só lá na praia
Se ouvem quebrar as ondas pela areia.
Co’a mão na face, a vista ao céu levanto;
E cheio de mortal melancolia,
Nos tristes olhos mal sustenho o pranto.
E se inda algum alívio ter podia,
Era ver esta noite durar tanto
Que nunca mais amanhecesse o dia!
Pôs-se o sol… Como já na sombra feia
Do dia pouco a pouco a luz desmaia,
E a parda mão da noite, antes que caia,
De grossas nuvens todo o ar semeia!
Apenas já diviso a minha aldeia;
Já do cipreste não distingo a faia.
Tudo em silêncio está; só lá na praia
Se ouvem quebrar as ondas pela areia.
Co’a mão na face, a vista ao céu levanto;
E cheio de mortal melancolia,
Nos tristes olhos mal sustenho o pranto.
E se inda algum alívio ter podia,
Era ver esta noite durar tanto
Que nunca mais amanhecesse o dia!
4 Comments:
"tá-só-lá" porquê, se tem um ponto e vírgula? Se fizer a pausa correcta, não fica tá-só-lá nenhum.
De qualquer modo, não interessa: o poema é horrível do princípio ao fim.
Este poema evocou na minha mente a seguinte composição de Robert Frost:
Whose woods these are I think I know.
His house is in the village though;
He will not see me stopping here
To watch his woods fill up with snow.
My little horse must think it queer
To stop without a farmhouse near
Between the woods and frozen lake
The darkest evening of the year.
He gives his harness bells a shake
To ask if there is some mistake.
The only other sound’s the sweep
Of easy wind and downy flake.
The woods are lovely, dark and deep.
But I have promises to keep,
And miles to go before I sleep,
And miles to go before I sleep.
Caro Alexandre:
O maravilhoso poema de Robert Frost, que lhe lembrou a si, lembrou-me a mim que à grande poesia só a grande poesia pode responder à altura.
Agradecido.
Srª Dona Meggy:
Espero que o poema de Frost lhe tenha dissipado o dissabor do nosso português. Com o nome que se assina, e tal opinião, a comentadora Meggy por certo se haverá melhor com o inglês do que com a prosódia e prolação dificultosas da nossa língua difícil. (Perdoe o feio “du-q-com”!)
A doutora Meggy vem ensinar-me a fazer pausas “correctas” numa pausa que eu próprio adverti, achando-a insuficiente embora para o eco não prejudicar a melodia do verso. Mesmo sem duvidar do duvidoso de estar lá no original do séc. XVIII o ponto e vírgula, a sucessão de vocalisos tão claros e abertos nesse 3º verso eu os senti como destoantes, não apenas com o soturno poente, que a “sombra feia” e as “grossas nuvens” adensam e transportam para cima do leitor na estrofe seguinte; mas também (e sobretudo) com o “tudo em silêncio”, no citado verso. Mas a doutora ensina que um ponto e vírgula tem a inédita e mágica particularidade de… fazer desaparecer os sons. Também não se sentiu a sensível comentadora do “co’a mão na face”, cujo sinal métrico o leitor competente dispensaria, se dá azos ao pasto malicioso dos maliciosos que sempre chasqueram no “alma minha gentil”… Enfim, coisas e loisas de somenos, para quem “de qualquer modo, não interessa”.
A horribilizada Dona Meggy não se fica, porém, com dizer que achou ou sentiu para si o poema “horrível do princípio ao fim”, o que era respeitável e irrespondível. Não, ela doutoralmente decreta: “é”. Ora, o que é, é. Mas os mestres Rodrigues Lapa (na antologia Poetas do Século XVIII, Seara Nova, 3ª edição, p.88, nota) e Jacinto do Prado Coelho (no artigo sub voce, do seu Dicionário da Literatura) consideram o poema de João Xavier de Matos notável, esteticamente e culturalmente (aqui como antecipação da sensibilidade romântica na nossa literatura). Por isso, em justa memória destes, já não é só a estética mas a própria moral que me dão licença de responder à opinadora da estranha opinião e estrangeiro nome: - antes de opinar, estudar!
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