HINO À CRUZ
Insígnia triunfal, honrosa e santa,
Chave do Céu, penhor da eterna glória,
Que com Jesus da terra nos levanta.
Sacrário em que ficou viva a memória
Do imenso amor divino, onde se alcança
Dos imigos domésticos vitória.
Sinal que após dilúvio traz bonança,
Por quem o mundo novo é reformado
E se converte o espanto em esperança.
Ó cruz, minha saudade e meu cuidado,
Que sustentar pudeste o doce peso
Da nossa redenção, tão desejado!
Ó cruz onde Jesus sofre estar preso,
Para soltar-me já da culpa antiga,
Porque o passo do Céu me era defeso!
Ó cruz, pregão da paz, amor e liga
Entre a divina e humana natureza,
Árvore vitoriosa, alegre, amiga!
Ó cruz onde se humilha a mor grandeza,
O mor poder, mais alta majestade,
E onde se engrandece a mor baixeza!
. . . .
Que alma haverá tão dura e tão perdida,
Que da cruz de Jesus, vendo-se perto,
Não seja à graça e amor restituída?
Socorro universal, remédio certo,
De quem te busca, achado em toda a parte,
Na cidade, no campo e no deserto.
Quem levar sabe a Cruz, seguro parte
Para todo lugar, estado e sorte,
Mas quem se disporá, ó Cruz, a levar-te?
Serpente milagrosa, vital, forte,
Que só pondo-lhe os olhos dá saúde
Na venenosa chaga, e vence a morte.
Dos maus é confusão, dos bons virtude,
Com que se fortifica o esprito enfermo,
Seguro de mudança haver que o mude.
. . . .
Ah, honra e salvação de pecadores!
Leva-me após meu Deus, todo influído
Nas chagas de Jesus e nas suas dores.
Renove-se outro ser no meu sentido,
Outro amor e afeição, que me transforme,
E eu seja ao mundo e ele a mim perdido.
Triste de quem descansa, espera e dorme
Nos prazeres da terra, mascarados,
Cujo fruto é pesar e fim disforme.
Eu só da Cruz me fio, onde os cuidados
Param todos em Deus, que faz suaves
O jugo, pena, dor dos mais tentados.
. . . .
As aves quando voam na figura
Da Cruz, se alçam da terra, e o Céu alcançam,
Que só esta faz voar toda a criatura.
Ó venerável Cruz com que se lançam
Os demónios confusos e vencidos,
E as tempestades d’alma se bonançam:
Em ti prendo as potências e os sentidos,
C’os olhos em Jesus, que por levar-me,
Espera tanto, ah!, c’os pés detidos,
Que só Jesus e a Cruz podem salvar-me!
Frei Agostinho da Cruz
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home