IMPLORAÇÃO e PRECE
IMPLORAÇÃO
Um poema, Senhor!
Um nenúfar aberto neste lodo!
Ou então desça todo
O teu silêncio
Sobre o charco tranquilo.
- Um silêncio tão largo e tão pesado,
Que nenhum condenado
Possa ouvi-lo.
Alguns versos de limpa transparência
À tona da maciça podridão:
Branca e alta emoção
De purezas eternas reflectidas.
Ou então
Que o teu silêncio inteiro
Aquiete de todo o coração
Dos poetas – os sapos do atoleiro.
Miguel Torga
Este poema saiu das Penas do Purgatório (1954) para ser recolhido Na Mão de Deus. Antologia da Poesia Religiosa Portuguesa, que José Régio e Alberto de Serpa organizaram e publicaram em 1958, ilustrada com desenhos de Guilherme Camarinha. Uma antologia que, cinquenta anos depois, não tem falta de matéria para ser muito aumentada e actualizada. Transcrevi-o com as ligeiras alterações de pontuação com que Torga o editou na Antologia Poética da sua própria obra. Nesta antologia encontra-se uma “Prece”, retirada do 1º volume do Diário (1941), que é digna de medir-se com o citado.
PRECE
Senhor, deito-me na cama
Coberto de sofrimento;
E a todo o comprimento
Sou sete palmos de lama:
Sete palmos de excremento
Da terra-mãe que me chama.
Senhor, ergo-me do fim
Desta minha condição:
Onde era sim, digo não,
Onde era não, digo sim;
Mas não calo a voz do chão
Que grita dentro de mim.
Senhor, acaba comigo
Antes do dia marcado;
Um golpe bem acertado,
O tiro dum inimigo…
Qualquer pretexto tirado
Dos sarcasmos que te digo.
Um poema, Senhor!
Um nenúfar aberto neste lodo!
Ou então desça todo
O teu silêncio
Sobre o charco tranquilo.
- Um silêncio tão largo e tão pesado,
Que nenhum condenado
Possa ouvi-lo.
Alguns versos de limpa transparência
À tona da maciça podridão:
Branca e alta emoção
De purezas eternas reflectidas.
Ou então
Que o teu silêncio inteiro
Aquiete de todo o coração
Dos poetas – os sapos do atoleiro.
Miguel Torga
Este poema saiu das Penas do Purgatório (1954) para ser recolhido Na Mão de Deus. Antologia da Poesia Religiosa Portuguesa, que José Régio e Alberto de Serpa organizaram e publicaram em 1958, ilustrada com desenhos de Guilherme Camarinha. Uma antologia que, cinquenta anos depois, não tem falta de matéria para ser muito aumentada e actualizada. Transcrevi-o com as ligeiras alterações de pontuação com que Torga o editou na Antologia Poética da sua própria obra. Nesta antologia encontra-se uma “Prece”, retirada do 1º volume do Diário (1941), que é digna de medir-se com o citado.
PRECE
Senhor, deito-me na cama
Coberto de sofrimento;
E a todo o comprimento
Sou sete palmos de lama:
Sete palmos de excremento
Da terra-mãe que me chama.
Senhor, ergo-me do fim
Desta minha condição:
Onde era sim, digo não,
Onde era não, digo sim;
Mas não calo a voz do chão
Que grita dentro de mim.
Senhor, acaba comigo
Antes do dia marcado;
Um golpe bem acertado,
O tiro dum inimigo…
Qualquer pretexto tirado
Dos sarcasmos que te digo.
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