Movimento, reflexão e caixeiros-viajantes
Eu sei que não vou dizer nada de novo! Tenho consciência que já Aristóteles leccionava peripatando (gostei deste patando) no seu Liceo. Mas, de qualquer forma, não posso deixar de atestar que o movimento impulsiona a reflexão. Pelo menos, é o que vou constatando pessoalmente, ao longo destes últimos meses, em que calcorreio os meus 600 Km semanais.
É verdade que é tudo em autoestrada, cuja monotonia não exige um elevado grau de concentração, porque já me soa nas campainhas auditivas um brado: mas como se pode pensar ou reflectir numa estrada montanheira plena de sinuosidades? É um facto, é um facto que nessas condições dificilmente se rumina adequadamente sem o risco de se ir parar ao cangalheiro. No entanto, a concentração não impede em absoluto a agilidade do pensamento e, por outro lado, a condição mais etérea da montanha pode funcionar como tónico.
A despeito de tudo isso, é no decorrer dessa cavalgada que deito contas à vida (não posso deixar de reparar no facto de se “deitar contas à vida”, o que parece reflectir o lado excessivamente materializante da nossa idiossincrasia, pois dá a ideia que a existência nos fica a dever dinheiro) e, por esse motivo, não posso deixar de dizer com frontalidade (onde é que você estava no 25 de Abril?), a viagem parece vir a calhar para a reflexão.
Uma última pergunta fica no ar: porque razão não existe nenhum grande pensador que tenha sido caixeiro-viajante? Será porque toda a actividade monocórdica nos cerceia a faculdade meditativa ou por outra qualquer razão que, neste momento, me escapa.
É verdade que é tudo em autoestrada, cuja monotonia não exige um elevado grau de concentração, porque já me soa nas campainhas auditivas um brado: mas como se pode pensar ou reflectir numa estrada montanheira plena de sinuosidades? É um facto, é um facto que nessas condições dificilmente se rumina adequadamente sem o risco de se ir parar ao cangalheiro. No entanto, a concentração não impede em absoluto a agilidade do pensamento e, por outro lado, a condição mais etérea da montanha pode funcionar como tónico.
A despeito de tudo isso, é no decorrer dessa cavalgada que deito contas à vida (não posso deixar de reparar no facto de se “deitar contas à vida”, o que parece reflectir o lado excessivamente materializante da nossa idiossincrasia, pois dá a ideia que a existência nos fica a dever dinheiro) e, por esse motivo, não posso deixar de dizer com frontalidade (onde é que você estava no 25 de Abril?), a viagem parece vir a calhar para a reflexão.
Uma última pergunta fica no ar: porque razão não existe nenhum grande pensador que tenha sido caixeiro-viajante? Será porque toda a actividade monocórdica nos cerceia a faculdade meditativa ou por outra qualquer razão que, neste momento, me escapa.
3 Comments:
Xor Z, deixe-se de reflexões e tome atenção à estrada. Faça um esforço para o pensamento não lhe voar, o importante é controlar possíveis velhinhos em contra-mão. Se quer reflexão de qualidade, experimente passar a ferro umas quantas roupinhas. Nem percebo porque não há grandes pensadores saídos de empresas tipo "engoma e já está", "o ferro mágico", "engomadoria dos alpes", etc.
Cumprimentos da sua fã nº 1.
Xor Z, então e a reflexão no duche?
O meu problema, cara edelweiss, é que quando passo a ferro estou mais preocupado em não queimar os dedos. O duche esse sim, mas como agora de manhã é sempre à pressa, o resultado é um vazio terrível "no cabeça". Cumprimentos para si.
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