Psicanálise para o povão
Já desde há muito que ando para falar dum programa que, de vez em quando (quando zapo, não sei se esta formação sintática está correcta, de zapping, quem souber mais do que eu que me diga), nas minhas noites de insónia acompanho entre o divertido e o estupefacto. Chama-se a peróla: Em que posso ajudar. O programa passa na tv record que, ao que sei (se alguém tiver melhores fontes que se acuse) é propriedade da IURD.
Os psicanalistas de trazer por casa, que se auto-denominam pastores (embora eu nunca lá tivesse enxergado gado cabrum, ovelhum ou gadum), tem todos o ar de vendedores de carros em 2ª mão, cabelo pastoso e olhar indefinidamente perdido nas profundezas do Senhor, e falam dum modo pausado e articulado que deve fazer parte dum curso (provavelmente em 12 lições) que os prepara para esta aventura psicanalítica nos mídia (parece que o termo correcto é este, foi o peixe que me venderam e eu vendo-o ao mesmo preço, grátis, mesmo grátis, como as chamadas da PT que, por acaso, ainda podiam ser mais grátis).
Estava já me esquecendo que os citados guardadores de gado não só tratam de doenças do espírito como também do corpo, embora se tenha de passar por um consultório a que eles chamam templo maior (não me perguntem os preços das consultas, nem se usam medicina alternativa porque eu também não sei, o que já vi, e posso atestar, é que emborrascam as pessoas com uns óleos que não sei se são de praia, qual o factor, nem se protegem dos ultra-violetas. Recomendo que leia o folheto antes de usar).
Tudo isto se passa num estúdio de televisão, o que nos leva a pensar se não se trata dum filme em que os actores são péssimos, os cenários deprimentes, a história de nos levar ao bocejo, o trama verdadeiramente inexistente, a acção igual a um dos filmes (dos piores) do Manuel de Oliveira e o conteúdo geral inefável.
4 Comments:
tens de acreditar em mim quando digo que li isto 4 vezes...vá lá, 3...
só para confirmar nunca ter esbarrado com tanta coisa escrita por quem não sabia exactamente se o que escrevia era assim ou não.
excepção feita ao nuno rogeiro, claro...
Cara nan
Não sei se hei-de ficar contente ou não com a comparação, na verdade dele só invejo a cabeleira. Não percebo bem o que queres dizer, mas, os parenteses funcionam um pouco como os escólios da ética do Espinosa. A despeito de tudo isso, eu raramente sei se o que escrevo é assim ou não. É isso que nos traz o sal da vida.
ok, case closed. vou seguir outra carreira...
Xor Z, excelente descrição. Nunca vi, mas consegui imaginar na perfeição a tal mistura entre o cómico, o aborrecido e o levemente perturbante.
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