RUMO A TITÂNIA
Já saiu desta praia e anda em cruzeiros caribenhos o grande senhor dos mares e dos mil milhões de euros que custou: 362 metros de comprimento, 65 de largura e 50 de altura equivalente a dezasseis andares, deslocando 222 900 toneladas. Quinze vezes maior do que o célebre Titanic. Apresenta aos 5 400 passageiros um “portefólio” de 37 categorias de acomodação, entre as quais 28 suites de dois andares, com 52 metros quadrados cada. Entre as muitas comodidades e atracções, dezenas de esplanadas e bares, um deles elevatório; um Royal Promenade que é um enorme centro comercial iluminado a luz natural, com lojas das mais prestigiadas marcas mundiais; um espectacular auditório com capacidade para 1 350 espectadores; uma pista de gelo; carrocéis infantis para os mais novos e uma radical pista de slide com 25 metros; uma parede de escalada anexa ao enorme Aqua Theater; um Central Park ajardinado com 12 mil plantas e 56 árvores, dispondo de “trilhos ecológicos” (sic) para as áreas de lazer e restauração anexas... Ah, não me esqueça o mais importante: um casino com 400 máquinas e quase outras tantas mesas de jogo.
É uma esplêndida cidade flutuante para gerontes milionários reformados do passado e os sempre jovens milonários clonizados e informatizados do futuro se encontrarem e perpetuarem as heranças. Com toda a segurança, que não há piratas somalis capazes de abordagem ao mastodonte. E longe, muto longe das cidades cada vez mais invadidas dos gangues dos subúrbios, apesar de todos os “resorts” e condomínios fechados e fortificados. É, não há dúvida, a opção mais segura quando a área terrestre dos três Impérios globais coincidir toda com a de um imenso campo de concentração. E não há que ter medo do mar, porque pode passar-se a viagem inteira (a vida inteira...) dentro do barco sem ver mar nenhum à volta: só gente bonita, lindos jardins e lojas à volta de si. Pode ser até que este barco seja submersível e, nos fundos mais fundos do mar, os selectos passageiros não vejam senão um grande e radioso céu azul sobre as cabeças... Ou pode ser que seja este barco aquela nave em que o sr. Stephen Hawking sonha levar a “humanidade” salva duma terra inabitável a colonizar o outerspace. E então teríamos que este Oasis of the Seas é um protótipo não muito distante do... Oasis off the Earth.
- Quê, ele disse “humanidade”? - O leitor do meu último postal já sabe de quem é que se trata...
Quanto a mim, embarco marinheiro deste aqui, às ordens do comandante Kierkegaard:
« Encontrar-se tranquilamente sentado num barco, por um tempo de calmaria, não constitui a imagem da Fé. Essa imagem é manter a embarcação, quando uma corrente a impele, com entusiasmo e à força de braços, sem procurar o abrigo de um porto .... Enquanto a inteligência, qual passageiro desesperado, estende os braços para a terra firme, mas em vão, a Fé vai trabalhando em profundidade, com todas as suas forças: alegre, a fé triunfa e salva a alma. »
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