Os presuntos de Francisco Lousã
Na sua intervenção, na Assembleia da República, Francisco Lousã, a propósito da nomeação da Pina de Moura para testa-de-ferro da TVI, do grupo espanhol PRISA, ligado ao Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), divagava metaforicamente sobre os desejos do poder, comparando o poder a um lobo e a comunicação social a um porco. Assim, quando um lobo vê um porco, segundo Lousã, o que ele vê, de uma forma behaviorista, são dois presuntos. Tal é o desejo natural e intrínseco do lobo. Em suma, o poder tem sempre uma atracção irresistível pelo controlo da comunicação social. Curiosamente, a concentração do poder e as tentativas de manipulação e controlo da comunicação por parte deste governo não mereceram para Francisco Lousã o menor reparo, remetendo, assim, o assunto para a problemática da filosofia especulativa. No fundo, Lousã poderia ter simplesmente dito, aliás, o que seria o mesmo, com a vantagem de nos poupar a desagradável retórica: “É a vida …!” Afinal onde está o espírito crítico e combativo de Lousã dos tempos de Santana Lopes? A triste figura de Francisco Lousã na Assembleia da Republica, revelando-se, claramente, refém de Sócrates, recordou-me uma dirigente do BE que acompanhou Soares na sua campanha presidencial. Talvez ainda se lembrem de uma loira com um ar de plástico, nunca abriu a boca e tanto quanto se pôde ver apenas lá estava para enfeitar e dar um ar mais pseudojovem à taciturna e serôdia campanha de Soares. Lousã, no Parlamento revelou-se, de igual forma, uma oposição de plástico, um enfeite da “esquerda moderna”. A metáfora, ao estilo evangélico, do líder do BE mostra o nível de confusão da sua douta cabeça, ou talvez ainda pior, a cumplicidade do BE na política reaccionária, ultraconservadora e neoliberal da “esquerda moderna”. Com efeito, a metáfora de Lousã não teve qualquer efeito, sem o jeito nem a graça de outras épocas. Em vez de se dirigir ao perigoso projecto absolutista de Sócrates, isto é, disparar para o alvo, preferiu, pelo contrário, de forma muito consciente, disparar para o ar. Ao fim e ao cabo, para Lousã o tema era presuntos, sabe-se lá de que presuntos é que Lousã estaria a falar. Enfim, foi uma cena triste para a esquerda e mais triste foi ainda quando vimos um líder da direita, Paulo Portas, enfrentar Sócrates de forma resoluta e frontal.