sábado, setembro 29, 2007
Aqui há uns tempos tive uma troca de ideias com o Xor Z sobre o enfraquecimento do PP - isto passou-se numa caixa de comentários do Tonel. Inebriado pelos vapores da esquerda, regozijei-me com o descrédito crescente do partido de Portas. Menos zombeteiro, Z (que, creio, não milita em partido de direita assumida) argumentou que um PP forte era necessário para a democracia portuguesa. Rosnei por piada; mas sabia que ele tinha razão.
Em tom sério venho agora comentar o resultado das directas do PSD. Creio que não fui o único a ficar surpreendido com o desfecho do sufrágio. E gostava de perceber o que se passou: como foi possível que Menezes tenha ganho quando não se trata uma figura convincente nem cativante e não se viu acompanhado dos "notáveis" do partido? Até a máquina partidária esteve contra ele! (E, sem eu saber bem o que se passou, até creio que terá havido algum fundamento na denúncia que ele fez a algumas irregularidade no processo eleitoral.) Uma outra adversidade que Menezes sofreu nos últimos dias foi ser sovado por a várias "altas" figuras do partido nos media quando ele ameaçou impugnar as eleições. E, apesar de tudo, Menezes ganhou!
Não sou PSD. Mas bato-me pela credibilização da vida política portuguesa. (A esperança de ver uma política credível em Portugal é que é cada vez menor.) Por isso creio que a eleição de Menezes para a Presidência do PSD será negativa para o país. Avanço apenas duas razões essenciais... outras há. Primeiro: é necessário que o PS de tendência liberal sinta a alternativa ideológica de um PSD forte, a quem Sócrates está a conquistar o espaço político e eleitoral. Menezes não saberá ser esse contrapeso ideológico e político porque das afirmações que dele ouvi fiquei com a ideia que este homem elementarmente pragmático não sabe o que é ideologia nem esfera política. (Trata-se de um político que pensa que a política não precisa da esfera das ideias.) O PS e a terceira via ficam assim com mais espaço para se expandirem; o polvo fica com tentáculos mais longos, asfixiantes... mais terrivelmente prepotentes. Em segundo lugar, Menezes é, como o seu amigo Santana Lopes, um franco-atirador da política. Não se lhe conhecem ideias sólidas para o país e as que lhe ouvi eram de uma infantilidade assustadora e impraticável. Por outro lado, Menezes revela uma visível inclinação para a demagogia e uma ânsia indisfarçável pelo poder. Mas estas não serão duas qualidades do governante sensato e esclarecido. Servirá Menezes para presidente do concelho de Gaia (?) mas nunca para presidente do Conselho de Ministros.
quinta-feira, setembro 27, 2007
Sobre os protestos políticos em Myanmar (Birmânia)
Recebi esta tarde a seguinte mensagem em sms:
"In support of our incredibly brave friends in Burma [Myanmar]: May all people around the world wear a red shirt on friday, September 28."
Vestirei o meu pólo grená. O Xor Z já me disse que não tem camisa vermelha. Improvise, homem!
Génio
Desde que resolvi visitar a casa onde viveu Einstein, em Berna, e onde, segundo tudo leva a crer, ele desenvolveu a teoria da relatividade, no início do século XX, tenho dado voltas à mioleira sobre o papel do génio na sociedade, questão que, desde Platão (nunca um homem medíocre pode fazer bem ou mal a uma cidade) tantas e tão brilhantes mentes tem ocupado. Andava eu nesta minha ruminação, quando se me depara um texto em que o génio é visto numa perspectiva muito peculiar. Não resisto, com risco de enfadar os meus já escassos leitores, a citá-lo, persistindo nesta embirração crónica de não indicar as minhas fontes.
Interpelado se o tio, que todos consideravam um génio, alguma vez lhe prestava ajuda, atestava o nosso herói: “se o faz a alguém, é sem o suspeitar. Trata-se de um filósofo, a seu modo. Pensa somente em si; o resto do universo é como se não existisse. A mulher e a filha têm apenas que morrer quando quiserem, e desde que os sinos da paróquia que tangerão por elas continuem a soar o meio-dia e as cinco horas, tudo estará bem. Isto é a felicidade para ele. E é o que particularmente prezo nas pessoas de génio. Só servem para uma coisa; feita esta, nada; não sabem o que é ser cidadãos, pais, mães, irmãos, parentes, amigos. Aqui entre nós, é preciso nos assemelhar a eles em tudo, mas não querer ser vinho da mesma pipa. Há necessidade de homens; homens de génio, não. Não, por minha fé, absolutamente não. Mudam a face do globo; e nas menores coisas, a tolice é tão comum e poderosa, que não se reforma nada sem grande confusão. Acontece parte do que imaginaram, parte continua como era; daí dois evangelhos e um traje de arlequim. A sabedoria do monge de Rabelais é a verdadeira sabedoria, para seu descanso e o dos outros: cumprir seu dever de acordo, falar sempre bem do senhor prior e deixar o mundo entregue à sua fantasia. Tudo vai bem, desde que a multidão esteja contente. Se eu soubesse história, demonstraria que o mal sempre surgiu aqui em baixo, de alguns homens de génio. Mas eu não sei história, porque não sei nada. Que o diabo me carregue se algum dia aprendi alguma coisa, e se, por não ter nada aprendido, eu me encontro em pior situação. Achava-me um dia à mesa de um ministro do rei de França, que tinha espírito por quatro; pois bem, ele nos provou, tão certo como um e um são dois, que nada era mais útil aos povos que a mentira, nada mais nocivo do que a verdade. Não me lembro bem das provas, mas deduzia-se evidentemente que os homens de génio são detestáveis e que, se uma criança ao nascer trouxesse na fronte o sinal dessa perigosa dádiva da natureza, dever-se-ia sufocá-la ou atirá-la ao chiqueiro.”
Interpelado se o tio, que todos consideravam um génio, alguma vez lhe prestava ajuda, atestava o nosso herói: “se o faz a alguém, é sem o suspeitar. Trata-se de um filósofo, a seu modo. Pensa somente em si; o resto do universo é como se não existisse. A mulher e a filha têm apenas que morrer quando quiserem, e desde que os sinos da paróquia que tangerão por elas continuem a soar o meio-dia e as cinco horas, tudo estará bem. Isto é a felicidade para ele. E é o que particularmente prezo nas pessoas de génio. Só servem para uma coisa; feita esta, nada; não sabem o que é ser cidadãos, pais, mães, irmãos, parentes, amigos. Aqui entre nós, é preciso nos assemelhar a eles em tudo, mas não querer ser vinho da mesma pipa. Há necessidade de homens; homens de génio, não. Não, por minha fé, absolutamente não. Mudam a face do globo; e nas menores coisas, a tolice é tão comum e poderosa, que não se reforma nada sem grande confusão. Acontece parte do que imaginaram, parte continua como era; daí dois evangelhos e um traje de arlequim. A sabedoria do monge de Rabelais é a verdadeira sabedoria, para seu descanso e o dos outros: cumprir seu dever de acordo, falar sempre bem do senhor prior e deixar o mundo entregue à sua fantasia. Tudo vai bem, desde que a multidão esteja contente. Se eu soubesse história, demonstraria que o mal sempre surgiu aqui em baixo, de alguns homens de génio. Mas eu não sei história, porque não sei nada. Que o diabo me carregue se algum dia aprendi alguma coisa, e se, por não ter nada aprendido, eu me encontro em pior situação. Achava-me um dia à mesa de um ministro do rei de França, que tinha espírito por quatro; pois bem, ele nos provou, tão certo como um e um são dois, que nada era mais útil aos povos que a mentira, nada mais nocivo do que a verdade. Não me lembro bem das provas, mas deduzia-se evidentemente que os homens de génio são detestáveis e que, se uma criança ao nascer trouxesse na fronte o sinal dessa perigosa dádiva da natureza, dever-se-ia sufocá-la ou atirá-la ao chiqueiro.”
quarta-feira, setembro 19, 2007
Aquilino Ribeiro
Aproveito este post 350 para dizer aqui umas palavrinhas sobre a trasladação dos restos mortais daquele, pelo menos é o meu alvitre, que considero um dos maiores escritores de língua portuguesa do século XX: Aquilino Ribeiro.
Já agora que vem a talho de foice, porque não se faz uma edição da obra completa de Aquilino, pois, como muita gente sabe, é muito complicado arranjar algumas obras deste autor essencial para o conhecimento do nosso país na primeira metade do século XX.
quarta-feira, setembro 12, 2007
segunda-feira, setembro 10, 2007
Frustração
Ontem no decorrer da minha modorrenta noite, fiquei deveras surpreendido ao ouvir dizer que afinal o Moita Flores é autarca, foi o próprio que o afirmou com uma ligeireza que não pode deixar de me espantar.
Então o homem andou estes quatro últimos meses, que digo eu estes últimos anos, a produzir opiniões na pele dum criminalista e afinal é aquilo que vocês sabem. Não posso deixar de lavrar um protesto em meu nome pessoal e do povo português em geral, isto é inadmissível, estão a brincar connosco, é uma falta de respeito pelas pessoas. Agora já viram se qualquer dia o Marcelo Rebelo de Sousa se lembra de dizer que não é nada comentarista, afinal é só um professor universitário, um prof., então o homem é só um prof. diria eu e comigo o “povão, quem iria acreditar. Imaginem, ainda, que o Loureiro dos Santos (será que estou a estropiar o nome do homem?) afirmava que era só um militar, um militar diria todo o planeta, o homem é só um militar? Vejam, ainda, se o Nuno Rogeiro vem dizer que é aquilo que ele é, quem acreditaria?
Caro Moita, porque não disse antes que era um historiador, por exemplo, um historiador de doenças provocadas por crimes ou só de doenças, provocadas por qualquer coisa. Porque não disse antes que era um escritor de telenovelas, quer elas passassem, ou não, em horário nobre. Aí sim, o pessoal descansaria. Mas um gestor autárquico, um gestor autárquico?, trata duma camarazinha?, uma espécie de Santana Lopes em versão soft, por amor de Deus e eu que até sou agnóstico.
Então o homem andou estes quatro últimos meses, que digo eu estes últimos anos, a produzir opiniões na pele dum criminalista e afinal é aquilo que vocês sabem. Não posso deixar de lavrar um protesto em meu nome pessoal e do povo português em geral, isto é inadmissível, estão a brincar connosco, é uma falta de respeito pelas pessoas. Agora já viram se qualquer dia o Marcelo Rebelo de Sousa se lembra de dizer que não é nada comentarista, afinal é só um professor universitário, um prof., então o homem é só um prof. diria eu e comigo o “povão, quem iria acreditar. Imaginem, ainda, que o Loureiro dos Santos (será que estou a estropiar o nome do homem?) afirmava que era só um militar, um militar diria todo o planeta, o homem é só um militar? Vejam, ainda, se o Nuno Rogeiro vem dizer que é aquilo que ele é, quem acreditaria?
Caro Moita, porque não disse antes que era um historiador, por exemplo, um historiador de doenças provocadas por crimes ou só de doenças, provocadas por qualquer coisa. Porque não disse antes que era um escritor de telenovelas, quer elas passassem, ou não, em horário nobre. Aí sim, o pessoal descansaria. Mas um gestor autárquico, um gestor autárquico?, trata duma camarazinha?, uma espécie de Santana Lopes em versão soft, por amor de Deus e eu que até sou agnóstico.
sábado, setembro 08, 2007
Tudo o que acontece está escrito num rolo lá em cima
Embora estivesse decidido a falar um pouco sobre a Suiça e os Suíços, dos quais, verbalize-se em trânsito, me agradou a primeira e não fui muito com a cara da maioria dos segundos, o assunto que hoje me ocupa é um romance, também ele com mais de duzentos anos como o último que aqui citei, que pela sua originalidade e bom senso, que, afinal no caso do autor, venceste Descartes!, estava muito bem distribuído, nos outros seus coevos é que não tenho tanta certeza, o que implica, por outro lado, que afinal se calhar o autor da Touraine (e se ele não é da Touraine? Não tem problema, pois o leitor paciente me elucidará) não tinha assim tanta razão. Mas quem se importa com isto, eu não! Em frente.
O que eu queria mesmo falar era do romance de Diderot, escrito ali para os meados do século dezoito e intitulado Jacques o Fatalista e seu amo, que, já agora aproveito para recomendar a sua leitura (aqueles que ainda não o fizeram), não porque tenha alguns direitos a receber, aliás, mais de duzentos anos fazem caducar qualquer prerrogativa, mas porque neste encontro uma história sensacional que poderia ser nomeada de: o meu capitão e o companheiro do meu capitão (o capitão é o de Jacques, bem visto).
A narrativa, profundamente surrealista visto que nos é contada aos bocados começando pelo fim: a morte do meu capitão, pode-se resumir do seguinte modo: dois homens, ambos oficiais do exército, encontram-se numa estalagem a jogar ao passa o dez (esclarece-nos o prefaciador, em nota, que o passa o dez é um jogo de dados, neste utilizam-se três e, como é evidente, pretende-se fazer dez ou mais). O primeiro tira repetidamente mais que dez, o segundo, pensando que os dados estavam viciados, crava, com um pequeno punhal, a mão do primeiro no balcão, depois das cerimónias da praxe reconhece o seu erro, pede imensas desculpas e dispõe-se a duelar com o cravado, duelo que, com o passar do tempo, se repete um determinado número de vezes entre cravador e cravado. Conclusão: estes tornam-se amigos intímos e cada vez que se encontram, depois de confraternizar um número de dias alegremente, exacerbam-se e duelam novamente, cuidando sempre o agressor da saúde do agredido e confessando-se mutuamente que não se perdoariam se o outro viesse a falecer.
Acerca das ilações que se podem extrair desta narrativa deixo ao leitor, que é sério e tem bom senso entre muitas outras coisas que não cabe aqui nomear, o cuidado de as auferir.
PS – isto não é uma declaração política, é só para dizer que o cravado, como é óbvio, é o meu capitão e o cravador, como se torna evidente, é o companheiro do meu capitão.
O que eu queria mesmo falar era do romance de Diderot, escrito ali para os meados do século dezoito e intitulado Jacques o Fatalista e seu amo, que, já agora aproveito para recomendar a sua leitura (aqueles que ainda não o fizeram), não porque tenha alguns direitos a receber, aliás, mais de duzentos anos fazem caducar qualquer prerrogativa, mas porque neste encontro uma história sensacional que poderia ser nomeada de: o meu capitão e o companheiro do meu capitão (o capitão é o de Jacques, bem visto).
A narrativa, profundamente surrealista visto que nos é contada aos bocados começando pelo fim: a morte do meu capitão, pode-se resumir do seguinte modo: dois homens, ambos oficiais do exército, encontram-se numa estalagem a jogar ao passa o dez (esclarece-nos o prefaciador, em nota, que o passa o dez é um jogo de dados, neste utilizam-se três e, como é evidente, pretende-se fazer dez ou mais). O primeiro tira repetidamente mais que dez, o segundo, pensando que os dados estavam viciados, crava, com um pequeno punhal, a mão do primeiro no balcão, depois das cerimónias da praxe reconhece o seu erro, pede imensas desculpas e dispõe-se a duelar com o cravado, duelo que, com o passar do tempo, se repete um determinado número de vezes entre cravador e cravado. Conclusão: estes tornam-se amigos intímos e cada vez que se encontram, depois de confraternizar um número de dias alegremente, exacerbam-se e duelam novamente, cuidando sempre o agressor da saúde do agredido e confessando-se mutuamente que não se perdoariam se o outro viesse a falecer.
Acerca das ilações que se podem extrair desta narrativa deixo ao leitor, que é sério e tem bom senso entre muitas outras coisas que não cabe aqui nomear, o cuidado de as auferir.
PS – isto não é uma declaração política, é só para dizer que o cravado, como é óbvio, é o meu capitão e o cravador, como se torna evidente, é o companheiro do meu capitão.
sexta-feira, setembro 07, 2007
terça-feira, setembro 04, 2007
Ratos e Ratazanas
A corrupção floresce em Portugal como não há memória. Debaixo do guarda-chuva político, o clientelismo, o tráfego de influências e a corrupção criaram novos protagonistas, que são, hoje, os donos do regime. Estes novos senhores de Portugal protegidos pelo centrão, ora de esquerda socialista ora social-democrata de direita, que governa este pobre país há mais de trinta anos, criaram uma grande lixeira, sobretudo, ao longo de uma vasta faixa que percorre o litoral do Minho ao Algarve. Assim, não admira que os ratos que deambulam junto dos milhares de pocilgas espanholas e que infestam toda a Estremadura, Castela e Leão trocassem essas terras por outras mais promissoras.O cheiro nauseabundo que o paraíso dos pedófilos e das mafias emana, onde a delação e o medo se misturam no pantâno so-cretino, despertou nos ratos essa vontade de imigração. Tal como dizia o Poeta, durante o velho fascismo, "os ratos invadiram as ruas das cidades e os corações das gentes", é urgente combatê-los e dizer bem alto: "Morte aos ratos!".
Os ratos invadiram a cidade
povoaram as casas
os ratos roeram o coração das gentes.
os ratos roeram o coração das gentes.
Cada homem traz um rato na alma.
Na rua os ratos roeram a vida.
É proibido não ser rato.
Canto na toca.
E sou um homem.
Canto na toca.
E sou um homem.
Os ratos não tiveram tempo de roer-me
os ratos não podem roer um homem que grita não aos ratos.
Encho a toca de sol.
(Cá fora os ratos roeram o sol).
Encho a toca de luar.
(Cá fora os ratos roeram a lua).
Encho a toca de amor.
(Cá fora os ratos roeram o amor).
Na toca que já foi dos ratos cantam os homens que não chiam.
Na toca que já foi dos ratos cantam os homens que não chiam.
E cantando a toca enche-se de sol.
(O pouco sol que os ratos não roeram).
Manuel Alegre