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Este quadro, intitulado O funeral de Shelley (ou A cremação de Shelley), contribuiu para mitificar e popularizar a figura do poeta romântico inglês. Na pintura, de que há mais que uma versão (creio aque esta é a original), encontramos quatro figuras do romantismo inglês a assistir à cremação do corpo de Shelley: Trelawny, Leigh Hunt, Lord Byron e, mais à direita, Mary Shelley.
A ideia de encenação atravessa a imagem. E não reside apenas da disposição e na postura das figuras. Ela emerge também no confronto (e nas contradições) que a cena retratada estabelece com a realidade: a pintura não é fiel à "verdade histórica", na medida em que, no funeral de Shelley (a 15 de Agosto de 1822, perto de Livorno, Itália), Hunt não saiu da carruagem, Byron não suportou a cena e partiu, ao passo que Mary Shelley não esteve presente. Mais, ao contrário do que se vê na imagem, o corpo de Shelley estava parcialmente comido pelos peixes. Mas o aspecto mais inspirador do quadro é a cremação do poeta retratada em contornos ritualísticos e sacrificiais. O corpo de Shelley sobre a pira, numa praia, rodeado por figuras de olhar lânguido, evoca o ritual dos funerais dos reis viquingues ou de figuras destacadas de outras culturas. E, historicamente, o corpo não foi incinerado porque se quis fazer da morte do poeta um momento glorioso mas porque as autoridades italianas, que temiam a peste, exigiam que todos os cadáveres fossem queimados.
O quadro foi pintado em 1889 por Louis Edouard Fournier e encontra-se na Walker Art Gallery, em Liverpool (óleo sobre tela, 129.5 x 213.4cm).