Honestidade e Tótózismo
Do ponto de vista do fenómeno puro podemos dizer que o cúmulo da tótózice é dizer ao nosso (a) melhor amigo (a) que fomos para a cama com a (o) namorada (o) dele (a) – para os mais materialistas, um caso análogo seria encontrar um bilhete premiado da lotaria no meio do chão e pôr um anúncio no jornal à procura do seu verdadeiro proprietário (para os restantes casos análogos peço ao leitor que envide esforços através da sua capacidade imaginativa). Entre esta categoria e a honestidade pura e simples deparam-se-nos toda uma plêiade de graus.
Um deles é dizer a uma nossa amiga, que nos conta toda contente que acabou de fazer um novo penteado porque estava farta do seu antigo visual, que achamos horrorosa esta sua nova faceta. No mesmo sentido, tecer considerações sobre namoradas (os) dos (as) nossos (as) melhores amigos (as) comporta sempre um risco desnecessário. Se a cachopa (o) não presta, de alguma forma o próprio chegará a essa conclusão, senão chegar é fugir como o diabo da cruz de lho dizer. Pode parecer que é um gesto de amizade, mas é tótózismo no seu quase mais puro estado.
Já, pelo contrário, mudar pequenos defeitos dos nossos amigos ou íntimos, desde que lhe não digamos à puridade que não os suportamos mais, têm toda a legitimidade e serve-nos, ainda, para poder atestar que usamos de toda a franqueza porque pensamos existir entre nós uma sólida amizade que resiste com facilidade a estas pequenas questiúnculas. Além de se ser honesto ainda se fica bem visto, é o chamado dois em um.
Entre estes dois extremos deixo ao cuidado do leitor, que sei que é inteligente e bem formado, a liberdade para decidir.