Roberto Nobre e a sua amizade com Ferreira de Castro
“Roberto Nobre e Ferreira de Castro eram dois tecelões de sonhos literários e artísticos, sonhos que se ligavam aos seus anseios de fraternidade e justiça. Segundo Ferreira de Castro, foram companheiros nas alegrias e nas dores e só no fim das suas vidas os elos que os uniam se quebraram. Afirmou o autor de A Selva que, com o desaparecimento de Nobre, alguma coisa morrera dentro nele para sempre.
Ferreira de Castro vivia então da escrita que produzia para diversas publicações. Quando Nobre chegou a Lisboa, Castro solidarizou-se com ele e pediu aos directores dos jornais para encarregarem o jovem sambrasense das ilustrações dos seus trabalhos. Mas a ligação entre os dois prolongava-se para lá do trabalho. Todas as noites Ferreira de Castro e Roberto Nobre se reuniam com Assis Esperança numa pastelaria da Avenida da Liberdade, quando esta estava deserta. No verão sentavam-se ao ar livre, à mesa de uma esplanada de raros clientes onde pouco dinheiro despendiam. Em conjunto sonhavam não apenas com o seu futuro artístico, mas também com uma sociedade justa para todos os homens. Além disso, noite após noite, com uma persistência elevada, Nobre decorou o pequeno gabinete de trabalho que Ferreira de Castro tinha na Rua do Diário de Notícias, no número 44. […]
Roberto Nobre teve então um casamento precoce que dificultou ainda mais a sua vida. Assim empenhou-se arduamente, redobrou os seus esforços quotidianos, trabalhando desesperadamente em várias revistas que a Bertrand publicava na altura. […]
Algum tempo depois, o lar de Nobre desmoronou-se e ele voltou ao convívio antigo com Ferreira de Castro. Ilustrou, então, um livro de Ferreira de Castro intitulado Pequenos Mundos e Velhas Civilizações, como já dez anos antes havia ilustrado a Epopeia do Trabalho. Mas com o passar do tempo a actividade de ilustrador foi dando lugar à de ensaísta, que se tornou dominante. À crítica de cinema juntou a de artes plásticas, onde, segundo Ferreira de Castro, triunfou também. […]”