Filosofia e Direita II
Disse ele lá na sua, com aquele ar que já lhe conhecem: é verdade que tentaste responder aquela pergunta que te tinha posto, mas, parece-me e olhou para os restantes interlocutores, que não explicaste bem a razão da direita não ter ideologia, porque pode haver uma ideologia diferente, em contraste e por conseguinte…
A pergunta pareceu-me pertinente e desta vez não houve moratória nem afirmei: ainda bem que me pões essa interrogação e entabulei o seguinte aranzel:
Uma das questões que nos vem à mente a propósito das designações políticas é a sua origem. Os termos direita e esquerda provêm, como quase toda a gente sabe, das alas do parlamento após a revolução francesa. Porém, no nosso país só se pode falar de direita e esquerda, com absoluta propriedade, após a Revolução de 1820.
Foi após este período conturbado que se forma um partido de direita denominado legitimista, encastelado à volta de D. Miguel e de sua mãe, Carlota Joaquina, que para muitos era a verdadeira eminência parda do movimento e, de seguida, ganha asas (ou bebe Redbull, como hoje se diz). É este mesmo partido que concorre a eleições e chega mesmo a eleger deputados.
No entanto, o que verdadeiramente nos interessa é como se forma a ideologia deste movimento. Privilegiando o tradicionalismo como verdadeira raiz do exercício social é a volta dos usos e costumes, isto é, das tradições (aquelas que faziam discursar Calisto Elói como um alcaide do Séc. XV e lhe levaram a propor que ”se restaurassem as leis do foral dado a Miranda pelo monarca fundador”, em pleno Séc. XIX), que o ideário se vai formando até cristalizar no Integralismo Lusitano, isto já nos anos da República.
Ora bem, fundando na tradição, o seu cariz pragmático é a sua característica mais óbvia e a história o campo onde se degladia combatendo a tradição liberal. Não é por outra razão que Sardinha e seus pares querem “refazer a história”, tentando ao mesmo tempo “refazer a política”.
Esta tentativa de “refazer a política” passa, precisamente, pela recusa de toda a ideologia, manifestação que era conotada com a ala esquerdista, os “filhos de Rousseau” e de outros que não vem ao caso nomear.
Deste modo, pela recusa se forma o domínio da direita, veja-se, por exemplo, a quantidade de antis que aparecem nos números da Nação Portuguesa, o verdadeiro órgão do Integralismo Lusitano.
Isto já para não falar do termo reacção ou reaccionário.